terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


"- Ih, sou mesmo uma besta. Ai, Rosa, pelo amor de Deus, fica minha namorada. Te dou meu coelhinho, minha bicicleta, meu ovinho de pomba, tenho um ovinho de pomba - murmurou e riu baixinho - Fica."

lygia fagundes telles - as meninas

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010



"(...)Qué ciudad será esa? ele perguntaria na maior perplexidade. Tercer Mundo? Terceiro Mundo. Y huele a durazno? Na opinião de Lia de Melo Schultz, cheira. Ele então fecharia os olhos onde eram os olhos e sorriria um sorriso onde era a boca. Estoy bien listo con esas mís discípulas. Enfim, o problema é dela, o meu é M. N., um M. N., nu em pêlo, muito mais em pêlo do que eu, ele é peludo à beça, assim na base do macaco. [hahahaha]. Mas um macaco lindo, a cara tão intelectual, tão rara, o olho direito um pouco menor do que o esquerdo e tão triste, todo um lado da sua cara é infinitamente mais triste do que o outro [derrame?].Infinitamente. Poderia ficar repetindo infinitamente infinitamente. Uma simples palavra que se estende por rios, montes, vales infinitamente compridos como os braços de Deus. As palavras. Os gestos se renovando como a pele da cobra rompendo lisa sob a pele velha. (...) Se Deus está no pormenor, o gozo mais agudo também está na miudeza, ouviu isto, M. N.? Ana Clara contou que tinha um namorado que endoidava quando ela tirava os cílios postiços, a cena do biquini não tinha a menor importância, mas assim que começava a tirar os cílios, era a glória. Os olhos nus. Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo. Pura convenção achar o sexo obsceno. E a boca? Inquietante a boca mordendo, mastigando, mordendo. Mordendo um pêssego, lembra? Se eu escrevesse, começaria uma história com esse nome, O Homem do Pêssego. Assisti de uma esquina enquanto tomava um copo de leite: um homem completamente banal com um pêssego na mão. Fiquei olhando o pêssego maduro que ele rodava e apalpava entre os dedos, fechando um pouco os olhos como se quisesse decorar-lhe o contorno. Tinha traços duros e a barba por fazer acentuava seus vincos como riscos de carvão mas toda a dureza se diluía quando cheirava o pêssego. Fiquei fascinada. Alisou a penugem da casca com os lábios e com os lábios ainda foi percorrendo toda a superfície como fizera com as pontas dos dedos. As narinas dilatadas, os olhos estrábicos. Eu queria que tudo acabasse de uma vez mas ele parecia não ter nenhuma pressa: com raiva quase, esfregou o pêssego no queixo enquanto com a ponta da língua, rodando -o nos dedos, procurou o bico. Achou? Eu estava encarapitada no balcão do café mas via como num telescópio: achou o bico rosado e começou a acariciá-lo com a ponta da língua num movimento circular, intenso. Pude ver que a ponta da língua era do mesmo rosado do bico do pêssego, pude ver que passou a lambê-lo com uma expressão que já era sofrimento. Quando abriu o bocão e deu o bote que fez espirrar longe o sumo, quase engasguei no meu leite. Ainda me contraio inteira quando lembro, oh Lorena Vaz Leme, não tem vergonha?

"Não" - diz em voz alta o Anjo Sedutor. Acendo depressa um tablete de incenso, oh mente pervertida. Queria ser santa. Pura como esse perfume de rosas que se enrola em mim e me dá sono. (...)"



lygia fagundes telles - as meninas



"Tonight I'm tangled in my blanket of clouds...

...dreaming aloud"


sábado, 20 de fevereiro de 2010


Entra em mim.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Homenagem aos "romances" pós-modernos:


Lorena e seus relacionamentos odiosamente contaminados pela pós-modernidade.

A culpa é minha ou do pós-modernismo?

Homenagem:


"Olho quilhão 38 assalta todo o espaço daquele corpo
02:45
tempo
suficiente para algum romance."


boate - renata cabral