terça-feira, 26 de janeiro de 2010


Apoiarei meus cotovelos sobre os seus antebraços largos e com o rosto quase colado nos seus olhos amargos ensaiarei mais alguns olhares cálidos, mansos, dissimulados para desculpar a minha falta de escrúpulos.
Você vai acreditar, me foder com força pra se vingar e falar na minha boca:
Eu amo você.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

My, my, don't cry...



Ela tinha mania de chorar quando brigava comigo.

E essa mania chata fazia com que eu me sentisse um filho da puta.
Mesmo quando era eu quem tinha razão.


"Não adianta explicar. Você não vai entender. Às vezes, como num sonho, vejo o dia da minha morte. É uma coisa meio espírita, um flash. E, embora a mulher não apareça, sei que é por causa dela que estão me matando. E tenho tempo de saber que não me deixa infeliz o desfecho da nossa história. Terá valido a pena."

Marçal Aquino - Eu receberia as piores...


domingo, 24 de janeiro de 2010

Merdinha de vida, vidinha de merda.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Ela desapareceu ontem à noite:
vestia sapatos obscenos

e aparentava a tristeza de um amor sem fim.

Sofre de alguns probleminhas mentais,
consequências de um passado

que não passa mais.

Foi vista pela última vez na noite de ontem,

na porta da minha casa.
Quem souber notícias dela,
quem souber seu paradeiro,
por favor não diga nada,

por favor
me deixe em paz.

desaparecida - flávio de castro.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Insone


Os olhos dela brilharam de novo. Brilharam num compasso doce, acolhedor, voluntarioso. O corpo há alguns meses adormecido e a total falta de interesse por todos os rapazes deram lugar àquela angústia já esquecida. A única diferença é que a angústia vem agora com a consciência da boa mulher que ela se tornou. Ainda assim, é certo que a senhorita de temperamento pouco equilibrado preferiria ter passado aquela noite de sábado em casa, para continuar a desfrutar de suas habituais noites de sono bem dormidas e da conveniente anestesia emocional do seu pobre coração instável.




Seja frio e calculista.
Seja previsível, decifrável.
Venha de preferência com um manual de instruções, hoje tudo vem com manual de instruções.
Tenha vocação para ciências exatas.
Tome decisões cientificamente exatas.
Não se emocione, não se arrepie com musica boa, não deixe que agucem seus sentidos, que se aproximem, que te toquem, que entrem.
Negue.
Não abra os olhos.

domingo, 17 de janeiro de 2010


"(...)

Compramos pizza e Coca-cola de dois litros. De repente ele ficou triste e disse:
- Tudo está difícil, nem comer uma pizza eu consigo, com prazer.
- Não gosto quando você fala assim.
- Não é culpa sua.
- Me esforço pra você ficar feliz, e não adianta. Me sinto uma imbecil. Submissa.
- Você não é submissa.
- Claro que sou submissa.
- Desculpa. Já te falei várias vezes que você não precisa fazer o café, de manhã. Se você quiser, eu faço o café.
- Não é disso que estou falando.
- Do que você está falando então?
-Eu gosto de fazer café. Podia fazer uma piscina de café. Não é isso. Me dá raiva porque tudo o que eu penso em fazer, penso antes em você. Se fosse por mim mesma eu teria uma vida mais diferente, uma outra vida... eu... eu gosto de fazer as coisas de outro jeito.

- Eu sei que você é assim. Eu gosto de você assim.
- Mas toda vez que você chega, me atrapalho inteira. Não quero ser isso, não quero ser gorda. Não quero sair toda noite pra comer porcaria na padaria. Pra você ficar feliz, eu saio com você e como o que não devia... Aí, quando vejo que você não está feliz, me sinto uma idiota.
- Mas Ju, quanto tempo faz que a gente não sai? A gente nunca sai.
- Esta semana a gente comeu na rua três vezes.
- E vc não gostou? Você mesma disse que queria comer um xis-salada.
- Mas eu não faria isso se não estivesse com você. Eu tenho pouco dinheiro, não posso ficar gastando.
- Mas um xis-salada! Quanto custa um xis-salada?
- Não é só xis-salada. Hoje a gente comeu pizza. Eu ja tinha jantado, e mesmo assim comprei uma pizza.
- Mas você não comeu? Não gostou?

- Você não está me entendendo.
-Eu tô entendendo (nessa hora ele ficou nervoso), você tá me dizendo que é submissa porque comeu um pedaço de pizza.
-Não é isso.
- É isso que você disse: que é submissa porque comeu pizza.
- No fundo é isso, mas não é só isso, não dá pra entender?

Ele estava bravo, já nem me olhava direito. Falou alto:

-Entendi perfeitamente: você quer que eu acredite que você é submissa porque comeu um pedaço de pizza. É isso.

Eu não disse nada.

- É isso?

(nada)

-Juiana, dessa vez você foi longe demais."

Sabina Anzuategui
: Calcinha no varal.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010


"- Não acabou. . . Não sei. . . Nenhum sonho acaba...
Sei eu ao certo se o não continuo sonhando, se o não sonho sem o saber se o sonhá-lo não é esta coisa vaga a que eu chamo a minha vida?. . . Não me faleis mais. . . Principio a estar certa de qualquer coisa, que não sei o que é. . . Avançam para mim, por uma noite que não é esta, os passos de um horror que desconheço. . . Quem teria eu ido despertar com o sonho meu que vos contei?. . . Tenho um medo disforme de que Deus tivesse proibido o meu sonho. . ."

FERNANDO PESSOA - O Eu profundo e os outros Eus


Soa absurdamente natural...