domingo, 8 de novembro de 2009

Cigarette brake II



Nem os playboys, nem os sarados, nem os ricos, nem os intelectuais. Eram os idealistas que a atraiam mais. Eles tinham mais brilho nos olhos, esperança no futuro, acreditavam nas pessoas, pensavam livremente, não continham gargalhadas.

Mesmo sabendo de cor todos os padrões esperados de comportamento, aparência e posição social dos homens que por ventura estariam em sua companhia, gostava mesmo dos idealistas. Com eles havia espaço para histórias, arte, transbordamentos, risadas histéricas, incursões revolucionárias, sonhos.

Certa vez, conheceu um rapaz que guardava para ela olhares graves - hora macios, hora severos. Ele sempre usava chinelos, tinha cheiro de roupa lavada, cabelo bagunçado e uma tranqüilidade quase irritante. Apesar de parecer indiferente, tentava impressiona-la, quase sempre conseguia. Era meio ator, meio poeta, meio louco e, acima de tudo, idealista. Havia nele olhos ardentes, sorriso fácil, amor gratuito pelas pessoas, tesão pelo mundo, verdade. Com ele, podia falar livremente sobre tudo, pintar seu rosto, rasgar-lhe as roupas, fazer sexo por amor, por tesão, por pura sacanagem e rir, rir muito.

O que os unia não tinha relação alguma com convenções sociais, hábito ou estar junto por medo de ficar só. Ao contrário. Eram unidos pela vontade, pelo bem-estar que causavam um ao outro, mesmo quando brigavam (geralmente) violentamente. Uma força maior, um magnetismo impedia que seus corpos não se atraíssem, não se tocassem... Era como tentar resistir ao irresistível.

Ele era capaz de aceitar seus defeitos, que não eram poucos, e até achar graça nas suas desconfianças, mesmo quando infundadas. Porque ela ardia, sentia, amava. O corpo dela, os ossos, a pele, a boca dela. Tudo estava ali, tudo queimava por ele.

Ela gosta dos idealistas porque acredita que eles se permitem, deixam-se levar por ela e a aceitam bem do jeito que ela gosta de ser. Ela gosta deles porque há espaço pras suas fantasias, suas histórias, seu sorriso fácil, sua verdade, seus transbordamentos, seu tesão pelo mundo.

Gosta, porque há lugar para o vínculo sem alianças, sem definições de posição ou compromisso, nem hora certa.

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